Pastoral na Igreja

Temos a finalidade de propagar informações referente a igreja e sobretudo, apresentar algum material para auxiliar na Pastoral.

7/22/2006

PADRE CÍCERO, ADVINHO DO QUE JÁ SABIA ?

Diversas pessoas que conviveram durante anos com o Padre Cícero diziam que ele era favorecido com o Dom de ver coisas que aconteciam a distância. E para provar o que afirmavam, narravam fatos extraordinários, às vezes ocorridos até parentes ou conhecidos seus. Dentre as dezenas de fatos incomuns alusivos ao poder divinatório do Patriarca, merecem realce alguns, tomados dos livros do Pe. Azarias Sobreira e do Pe. Antônio Feitosa: “Pedro Ferreira, das Malvas, subúrbio de Juazeiro, (escreve o Pe. Azarias) era conhecido por sua indiferença religiosa e, em seus reiterados encontros com o Major Rocha, seu vizinho, não poupava críticas a Padre Cícero. Vez por outra, todavia, mudava de tom, sofreando o despeito, e dizia para seus amigos: — Eu falo assim, meninos, mas já vi aquele padre fazer uma proeza que ainda hoje me impressiona. Viajava ele comigo do Juazeiro para São Pedro (hoje Caririaçu), quando lá para o meio da caminho, parou de repente. —Você está ouvindo, Pedro ? — disse-me ele —Acolá, do outro lado, está uma pessoa gemendo e deve ser um doente mortal. Vamos ouví-lo de confissão. Fiz tudo para ele mudar de pensamento. Já estava ficando escuro e não havia nenhum caminho naquela direção. Além disso, por mais que eu botasse o ouvido, não percebia nenhum sinal de gente. Também não me constava que por ali morasse ninguém. Mas o Padre meteu o cavalo no mato e eu me vi obrigado a seguir atrás dele. A gente de lá ficou espantada com a nossa presença e tomou-a por um verdadeiro milagre. O doente se confessou e, não sei como, voltamos pela batida feita por nós na ida para lá. O dia seguinte era domingo e o povo de São Pedro nos estava esperando para a missa”[1] Mais adiante, o Pe. Azarias narra outro fato singular. “Em 1895, um caboclo do baixo Mearim (Maranhão), ignorante e correligionário de S. Tomé, viajou até Juazeiro, menos por motivo religioso do que por curiosidade e passa-tempo. Chegando a Juazeiro, cruzou as ruas em várias direções e, como era natural, nada viu do maravilhosos que corria pelo sertão e lhe haviam referido. Desapontado com a decepção, encaminhou-se, antes de regressar, à casa do “Padrinho” aquem disse, num mal disfarçado desdém: — Quero que vosmicê me mostre um exemplo para eu ter o que contar em minha terra, porque estou aqui há mais de três dias e não vi nada de admirar. Achavam-se ali mais de cem pessoas naquela ocasião e semelhante exigência assumia ares de verdadeiro desafio. — Sim Senhor meu amiguinho, — respondeu o Padre Cícero. — Quando você passar por São Julião, deixe detrás da porta do quarto onde dormiu, aquela cabacinha de pólvora. De tudo isto foi testemunha o Mestre Honório, velho conhecido do caboclo e meu saudoso sacristão em Campo Sales que, vendo-o baixar a cabeça e ficar calado, procurou saber a explicação do seu mutismo. E da própria boca do maranhense lhe foi dito que tudo aquilo era verdade, porque efetivamente tinha achado muito bonita a cabacinha e ocultamente a escondera no bornal, praticando assim um furto manifesto”[2] “Em 1942, achava-se em Recife o Sr. José Geraldo da Cruz, em visita a uma de suas filhas que naquela cidade vinha cursando a Faculdade de Farmácia. Durante aqueles dias, no hotel onde se hospedara teve ocasião de travar amistosas relações com um bacharel da família Pereira, de Princesa, cujo nome, por motivos bem óbvios, prefere silenciar. Ao calor da conversação, o Dr. Pereira, depois de ter sabido da procedência de José Geraldo que por dilatados anos nutria o propósito de escrever um livro sobre Juazeiro e seu fundador. E na esperança de colher impressões inteiramente inéditas deliberou ir entender-se com o Padre Cícero, mas disfarçado em humilde beiradeiro. A fim de alcançar com êxito semelhante intento, adquiriu um chapéu de palha de rude fabricação, um par de alparcatas igualmente populares e, incorporando-se a um magote de romeiros com quem deparou numa estrada, conseguiu assim apresentar-se ao Patriarca. Este, contudo, logo que o viu confundido com a multidão, chamou por alguém de casa e ordenou que dessem uma cadeira ao paraibano dizendo: — Dêem-lhe um assento, pois ele não está acostumado a passar tanto tempo de pé. E como o doutor se escusasse da oferta, o Padre replicou categórico: — Sente-se e espere um pouco, que mais tarde eu o atenderei”. Outros aspectos, considerados pelo escritor Neri Feitosa, em seu livro O Padre Cícero e a opção pelos pobres, em que considera o Padre Cícero como profeta não como conhecedor do futuro, mas como um Dom de fortaleza para denunciar as injustiças e contestar o arbítrio e os caprichos dos poderosos. Por isso, considera o seu profetismo no plano civil e no plano religioso: No plano civil — Independência municipal: o povo de Juazeiro queria autonomia; mas, mesmo em democracia, a última coisa a prevalecer é a vontade do povo; primeiro, por muito tempo, prevalece a vontade dos mandantes da situação. Ao lado de humilhações aso juazeirenses pobres na feira do Crato, a sede municipal, os grandes trocavam desaforos nos dois jornais: “Correio do Cariri” (Crato) e “O Rebate” (Juazeiro). A todos os esforços, a situação cratense respondia com as tapeações macias dos meandros políticos. Sob a liderança do Padre Cícero, os Juazeirenses combinaram não pagar mais impostos ao Crato. Em 7 de setembro de 1910, foi feita uma passeata gigante, com uma bandeira revolucionária, verde-amarela, onde estava escrito: “Viva a nossa Independência”. A passeata partiu da casa do Padre Cícero e terminou na praça que, a partir daquele dia, chamou-se Praça da Liberdade; — Na seca de 1900, ele escreveu o que segue. Diz o povo, criativo em suas hipérboles, que a seca de 1900 foi tão grande e longa que, quando choveu, os cachorros acoaram a água que descia nos rios, desacostumados do fenômeno. Na seca do 15, telegrafou ao Dr. Floro, em Fortaleza: “Faça esforços telegrafando governo salvar vidas mandando já trabalhos, socorros públicos. Aqui sepultam todos dias de pura fome. Outros caídos na ruas, caminhos. Socorro agenciados todos Estados, nada vem aqui. Cem contos nossa direção salvava muito enquanto vem inverno, plantações. Faça esforço, todo brasileiro, cearense tem direito reclamar”; — Planos para a seca. O profeta não é um crítico contumaz e vezeiro. Ele denuncia os erros gerais, encoraja os fracos na luta por seus direitos e, na hora da contribuição, apresenta planos concretos de ação. No plano religioso — Morreu acreditando nos milagres. Há cartas que do próprio Padre Cícero, explicando que não pode deixar de crer; — Denunciou o processo, como tendo sido “alterado” e “deturpado” (Cartas, 20,23,119, 131, 132). Aos cardeais do Santo Ofício falou por escrito como um profeta fala: “Do meio da religião vem a injustiça”; — Protestou contra proibições aéticas e desumanas: · de ser desterrado do lugar que ele mesmo fez; · de ser forçado a desdizer-se do púlpito; · de ser condenado a “andar como vagabundo”; · de não receber os romeiros. — Protestou contra as Cartas Pastorais do bispo do Ceará, como “inflamantes” e com as circunstâncias agravante de serem publicamente nos jornais ímpios , como “um mar de mentiras, injúrias e calúnias”, como “caprichos do sr. dom Joaquim” que tem poder de sobra e não tem temor de consciência, como “domínio e predomínio de uma vontade única”; — Protestou contra as censuras cruéis e excessivas, que lhe pesavam em cima como uma “montanha” e como sendo “opressão, injúria e injustiça” e “desenfreada perseguição” e “má vontade” do bispo. — Denunciou a credulidade dos bispos que por simples coleguismo, “dizem amém ao que propagou o sr. dom Joaquim”, sem exame subjetivo ou objetivo da causa; — Apelou para a justiça divina: “Algum dia os que me fizeram tanto mal hão de saber que não se persegue aso seus semelhantes impunemente”. Bibliografia: TELLES. Antônio. Padre Cícero nas pegadas do Mestre. Juazeiro do Norte. 1985. FEITOSA. Neri. O Padre Cícero e a opção pelos pobres. Edições Paulinas. São Paulo.1984. [1] Pe. Azarias Sobreira, o .c. p. 112 [2] Pe. Azarias Sobreira, o .c. p. 112